quinta-feira, 16 de outubro de 2008

DIDÁTICA: ORIENTAÇÕES PARA UM PLANO DE AULA

Conteúdo
Genética, biologia molecular e metodologia científica Autor Marcos Engelstein, mestre em Biologia, Professor do Ensino Fundamental e assessor de Ciências. Ano 8º e 9º anos. O tema pode ser trabalhado associado à Genética, no 8º ano ou quando se discute o papel da ciência, em qualquer outra série. Pela necessidade de uma certa abstração do tema, a faixa etária de 8º e 9º anos é mais apropriada (13 a 16 anos).
Tempo estimado Variável.
Depende da disponibilidade dos professores e do envolvimento dos alunos. Introdução Nos últimos anos, temos sido bombardeados com novidades biológicas que parecem destinadas a mudar o curso da história. Em julho de 2000, as notícias sobre o seqüenciamento das bases nitrogenadas do genoma humano e, em novembro de 2001, os relatos sobre o primeiro clone humano nos deixaram perplexos, curiosos e preocupados. Até uma telenovela abordando o tema clonagem foi produzida.
O que existe de verdade em tudo isso?
O que sabemos e o que não sabemos?
Qual a interferência da mídia e quais os significados de cada descoberta?

Se refletirmos um pouco sobre a idéia de clone, vamos perceber que obter uma cópia idêntica de um mesmo organismo ocorre naturalmente nos gêmeos idênticos e na partenogenia (desenvolvimento de um ser vivo de um óvulo não fecundado, como em algumas plantas e invertebrados, especialmente em artrópodes). O uso de clones se faz há muito tempo! Reprodução por estaquia (em que se estimula a reprodução da planta a partir de pedaços do próprio caule) não é exatamente isso?


Obter clones por meio de embriões também não é técnica tão nova. Se o embrião tiver cerca de 200 células, é possível separar o material e obter outros embriões idênticos geneticamente.


Em 1996, uma nova técnica foi apresentada, aquela que deu origem à ovelha Dolly. O fato gerou um grande impacto na comunidade científica, pois ocorrera a transferência de um núcleo de uma célula adulta para um óvulo cujo núcleo fora previamente retirado. Com estímulos químicos, foram ocorrendo sucessivas divisões nesse óvulo até chegar a um embrião, implantado em outra ovelha, para gestação.


Muitas expressões têm surgido na mídia, causando confusões e incertezas. Biotecnologia, biologia molecular, alimentos transgênicos, organismos geneticamente modificados. Isso diz respeito aos nossos estudantes? A resposta é sim!

Objetivos

Por que abordar esse assunto polêmico e atual com nossos alunos? Não existe necessidade de ensinar propriamente genética ou biologia molecular. Isso exigiria um grau de abstração que a maioria deles ainda não tem, assim como não tem informações importantes para respaldar a discussão. Mas saber fazer a leitura correta das informações veiculadas é, sem dúvida, uma habilidade desejada. Além disso, é muito importante fornecer informações corretas para que eles possam refletir e assumir uma posição frente aos avanços da ciência que podem interferir em sua vida.

Recursos didáticos

Transforme a sala de aula em um ambiente de estudo e pesquisa, oferecendo aos alunos materiais como jornais e revistas. Se houver uma sala de informática ou acesso a computadores, o trabalho pode ser ampliado com consultas à internet. Desenvolvimento da atividade Comece o trabalho um mês antes, pedindo aos alunos que construam um registro coletivo dos avanços em Ciências Naturais durante esse período de tempo. Diariamente, em momentos marcados com antecedência, um aluno deverá apresentar um recorte de jornal ou revista ou ainda um resumo de uma notícia que tenha aparecido em algum telejornal, acompanhado de um comentário sobre os impactos, positivo ou negativo, que o fato poderia causar na sociedade, quer do ponto de vista econômico ou político. Insista no registro detalhado da fonte indicando qual o veículo de mídia e a data de publicação. Um espaço deverá ser reservado para afixar os trabalhos. Ao final de um mês, a classe terá um panorama de novos avanços nas ciências da natureza e poderá avaliar o quanto desses estão representados pela área de genética e de biologia molecular.


A partir daí, sonde as representações que os alunos construíram sobre genoma humano, alimentos trasngênicos e clonagem. Faça isso por meio de perguntas diretas. Descarte as explicações fantasiosas e trabalhe com as coerentes (mesmo que não necessariamente corretas).


Explique sucintamente que o projeto Genoma Humano foi oficialmente iniciado em 1990 e consistia em mapear os cromossomos e determinar a seqüência de bases nitrogenadas de todos os genes humanos. Estava previsto para durar 15 anos e contava com um orçamento de 3 bilhões de dólares.


James Watson, um dos pais do modelo da dupla hélice do DNA, foi convidado para dirigir o projeto e intermediar os conflitos do que já foi chamado de "o maior projeto civil desde a conquista da Lua".

Em 1992, Watson deixou a direção do projeto, por ser contra o pedido do Instituto Nacional de Saúde, dos EUA, para patentear três mil genes humanos. Afinal, o projeto não era mundial? Ou seria norte-americano? Um dos argumentos que justificam a demora dos resultados é justamente a competição e a não colaboração entre as várias equipes dos diferentes países.

Estariam todos esperando o momento de também tentar uma patente?

A quem pertencem os genes humanos?


Hoje, especula-se que o projeto tende a priorizar as pesquisas dos genes que envolvem doenças, não só pelos benefícios imediatos dos tratamentos, mas por serem mais comerciais, principalmente quanto aos diagnósticos.


Outro ponto merece destaque: o projeto afastou a participação de países pobres e em desenvolvimento das pesquisas e de qualquer fórum de discussão, inclusive sobre o repasse dos conhecimentos gerados.


O que temos após o anúncio do seqüenciamento? Esta é a outra parte do trabalho. Oriente os alunos para uma pesquisa em jornais, revistas e, se possível, internet. É muito importante esclarecer o que se quer, qual o período que deve ser abordado (2000 e 2001 é o suficiente, mas pode ser ampliado), o que deve ser procurado e como deve ser feito. A internet é uma boa ferramenta de trabalho, desde que tenha algum significado para o aluno. Caso contrário, avalia-se apenas a qualidade das impressoras.


O trabalho de pesquisa por si só já é uma atividade das mais importantes, independente do conteúdo abordado, pois serve para desenvolver habilidades que são utilizadas em qualquer área; se o aluno não aprender tudo sobre a clonagem não há grande prejuízo, mas se souber pesquisar, poderá fazê-lo para qualquer disciplina e conteúdo. Portanto, a orientação é o ponto mais importante; invista tempo nisso. O professor de Língua Portuguesa é uma excelente ajuda nesse momento.


Peça aos alunos, e leve para a classe, os mais variados tipos de textos: notícias, reportagens, textos de opinião e textos não-verbais: fotos, gravuras, gráficos. Novamente, envolva o professor de Língua Portuguesa para o melhor uso de cada tipo de material. Não basta reunir um acervo, é preciso propor atividades de leitura, de análise, de resumo, de debate de idéias.


Confronte as novas informações com os conhecimentos prévios dos alunos: o que pensavam e o que mudou?

Quais os impactos das novas descobertas para a humanidade?

Após o anúncio da descoberta da seqüência das bases nitrogenadas, pouca coisa mudou, exceto o número estimado de genes que, de 100 mil foi reduzido para 30 mil. Sabemos apenas a seqüência, mas não sabemos ainda o que fazer com isso, não somos capazes de transformar moléculas de DNA em seres vivos. Ainda falta determinar quais partes têm significados (genes) e o que determinam. Neste ponto, proponha uma discussão sobre o filme Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, Steven Spielberg, Universal Pictures). No filme, um cientista consegue reproduzir dinossauros com o DNA encontrado no sangue de um inseto fossilizado. É interessante rever o filme para identificar quais fatos apresentados são ficção e que outros poderiam ter uma comprovação científica. A recente clonagem humana também merece atenção. A descoberta foi anunciada pela mídia, mas não passou pelos canais científicos, ou seja, não foi submetida à avaliação da comunidade científica competente. Analise com os alunos o significado desse tipo de autopromoção. Na verdade, o que se obteve não representa nenhum avanço.


O tema é muito interessante, pois trata de alguns "fetiches" científicos: saber a cor de olhos dos filhos, o sexo, o tipo físico. Seria impossível produzir aqui um roteiro de aula que contemple todo o assunto, mas fique atento e preparado para as questões que podem aparecer, principalmente sobre a ética e o determinismo genético. Existe uma tendência a reduzir todas as explicações das estruturas da sociedade em termos do comportamento geneticamente determinado dos indivíduos que a compõem. Isso não é verdade, pois existe uma forte influência do ambiente na formação do indivíduo.


Hoje, o grande apelo para a clonagem se justifica pela possibilidade da obtenção de células-tronco, células indiferenciadas que têm o potencial de se transformar em qualquer outra célula, que poderiam ser usadas para o tratamento de diversas doenças, como distrofias musculares e acidentes neurológicos. Existem, no entanto, formas de obter essas células sem a necessidade de produzir um embrião: podem ser obtidas em placentas, na medula de alguns ossos e no cordão umbilical dos recém-nascidos. Não se clona nem para produzir gente (pelo menos por enquanto), nem para se produzir órgãos (seria necessário "produzir" alguém e depois matá-lo para a retirada dos órgãos). O trabalho pode ser ampliado para terapias gênicas e alimentos transgênicos. Avaliação O processo da pesquisa deve ser avaliado acompanhando-se os passos dos alunos ou pedindo a realização de tarefas intermediárias. Se você perceber que os alunos levantaram muitos fatos e argumentos importantes, proponha a realização de um debate, dividindo os alunos em grupos, chamando outros professores e até mesmo profissionais para participar (de preferência, da área das ciências das humanidades, tal como Psicologia, Filosofia, História e Sociologia). Cada grupo pode se comprometer a explorar um tema: clonar humanos, clonar para obter células-tronco, proibir clonagem, permitir clonagem com fins terapêuticos. O debate em torno do assunto também deve ser avaliado.


Algumas leituras críticas podem ser feitas, de preferência com a participação do professor de Língua Portuguesa: a novela O Clone (Glória Perez, Rede Globo), analisando o que há de verdade e de fantasia; Frankenstein (Mary Wollstonecraft Shelley, Editora Martin Claret), para discutir os limites da Ciência; O Sorriso do Lagarto (João Ubaldo Ribeiro, Nova Fronteira, 1991) e Os meninos do Brasil (Original: The boys from Brazil. Direção de Franklin J. Schaffner. Com Gregory Peck, Laurence Olivier, James Mason, 1978. EUA. 127 minutos).

DIDÁTICA: PLANO DE AULA O QUE É ISSO?



Mesmo para um professor experiente, é impossível entrar em classe sem antes planejar a aula. É por isso que os profissionais que entendem bastante de didática insistem na idéia de planejamento como algo que requer horário, discussão, esquematização e certa formalidade. Agindo assim, tem-se uma garantia de que as aulas vão ganhar qualidade e eficiência.


Tecnicamente, plano de aula é a previsão dos conteúdos e atividades de uma ou de várias aulas que compõem uma unidade de estudo. Ele trata também de assuntos aparentemente miúdos, como a apresentação da tarefa e o material que precisa estar à mão.


O plano de aula se articula com o planejamento - a definição do que vai ser ensinado num determinado período, de que modo isso ocorrerá e como será a avaliação. O planejamento, por sua vez, se baseia na proposta pedagógica, que determina a atuação da escola na comunidade: linha educacional, objetivos gerais etc.


Portanto, o plano de aula se encontra na ponta de uma seqüência de trabalhos. Esse encadeamento torna possível uma prática coerente e homogênea, além de bem fundamentada.


Tema, objetivo e avaliação devem ser definidos


Antes de partir para o plano de aula, é preciso dividir em etapas o planejamento de um determinado período (bimestre ou quadrimestre, por exemplo). Com uma idéia do todo, fica mais fácil preparar o plano conforme o tempo disponível. Não há modelos certos ou errados. Os planos de aula variam segundo as prioridades do planejamento, os objetivos do professor e a resposta dos estudantes. Mesmo assim, é possível indicar os itens que provavelmente constarão de um plano de aula proveitoso.


Um dos primeiros tópicos da lista deve ser o próprio assunto a ser tratado. Logo em seguida vêm os objetivos da atividade e que conteúdos serão desenvolvidos para alcançá-los. As possíveis intervenções do professor (como perguntas a fazer), o material que será utilizado e o tempo previsto para cada etapa são outros itens básicos.


Finalmente, é preciso verificar a eficiência da atividade. A única forma de fazer isso é avaliar o aluno. O critério de avaliação também é flexível. Avaliar apenas com base na expectativa definida lá no começo pode tornar o trabalho superficial. Da avaliação dependem os ajustes a serem feitos no processo. Eles são fundamentais para que a aula dê certo. "Ela não pode ser muito fácil nem muito difícil, mas um desafio real para o aluno.



Planejar dá mais experiência para antecipar o que pode acontecer. Com base nisso, o professor se prepara para os possíveis caminhos que a atividade vai tomar. Não é desejável prever cada minuto da aula. Os planos vão se construindo a cada etapa, dependendo do que foi percebido na etapa anterior. Se o plano de aula não prevê tempo e espaço para os alunos se manifestarem, a possibilidade de indisciplina é grande - e de aprendizado problemático também.



O plano de aula dá abertura para lidar com o imprevisível sem perder o pé. É um fio condutor para onde sempre se volta.



Os alunos não são os únicos modificados pelo aprendizado. Reservando um tempo depois da aula para refletir sobre o que foi feito, você tem oportunidade de rever sua prática pedagógica. Se o trabalho for acompanhado por um orientador ou coordenador pedagógico, tem-se um dos melhores meios de formação em serviço. Portanto, o plano de aula é uma bússola para que você conduza da melhor forma seu dia-a-dia profissional.



Um plano de aula colocado em prática


Entre as atividades do programa Escola que Vale (parceria entre o Cedac, a Companhia Vale do Rio Doce e prefeituras municipais) está a formação docente. Jacymere Chaves Barbosa, professora da 1a série da Unidade Escolar Anjo da Guarda, em São Luís, participou do programa, que ensina, entre outras coisas, a criar um plano de aula.
Com as colegas da mesma série, ela fez um plano para um projeto sobre contos de fadas. O objetivo era levar os alunos a escolher histórias para serem recontadas a crianças de uma classe de Educação Infantil. Na primeira aula, a professora propôs a atividade e selecionou livros com os alunos.
Veja, a seguir, o plano da segunda aula.


Objetivos das práticas de leitura: despertar interesse de ler e ouvir contos; promover a confiança dos estudantes como leitores; manipular os livros para criar expectativas; e coordenar informações de texto e de ilustrações.



Objetivos das práticas de escrita: listar títulos e personagens e relacionar novas palavras às já conhecidas.



Livros a utilizar: separar os que só contêm um conto dos que reúnem vários e os que exigem maior e menor habilidade de leitura.


Orientações didáticas e possíveis intervenções: no primeiro momento, os alunos lêem os títulos dos livros para identificar os que ainda não conhecem. A tarefa é feita com os estudantes sentados em roda, manipulando e trocando os livros colocados no centro. Depois, eles são organizados em grupos de três, para trocar impressões e brincar com os livros. Caso as crianças fiquem atentas demais às ilustrações, peça que elas leiam o índice e elabore algumas questões.

No segundo momento, faça um ditado dos títulos dos contos.



A aula foi filmada e depois debatida com Jacymere e os demais professores da 1a série, que também aplicaram o plano. O grupo discutiu questões como: que recursos os alunos utilizaram para ler? Que intervenções ajudaram as crianças a avançar nos conhecimentos?
Jacymere fez uma autocrítica. Notou que poderia ter planejado melhor o uso do espaço da sala, que não foi muito funcional. Os professores perceberam ainda que não tinham pensado em adequar o desafio da atividade ao nível de alfabetização de cada aluno. As conclusões foram levadas em conta nos planos das aulas seguintes.